Sobre
O Grupo de Estudos Mapografias Urbanas (GeMAP) teve início em 2010 a partir do IV Workshop Internacional da Rede Internacional Problemáticas Urbanas Contemporâneas (RED-PUC1), organizado pelo Núcleo 8 da rede na FAU. A equipe, a partir de novos e extensos desafios sobre a complexidade da cidade contemporânea, propôs a produção de mapas analíticos como instrumental metodológico fundamental. Na ocasião Workshop, colocou-se como objeto de estudo para propostas de intervenções duas áreas de São Paulo: o Parque D. Pedro II (PDP), no centro; e um trecho da margem da represa Guarapiranga, no extremo Sul da cidade.
A partir daí, O GeMAP lançou em 2011 a disciplina “Intervenções Urbanas – entre o global e o local na metrópole contemporânea”, para alunos da graduação na FAU/USP, com a perspectiva de dar continuidade às discussões conduzidas no ano anterior. O coletivo da disciplina optou pelo trabalho no PDP, e por tratar de questões da análise urbana e metodologia projetual, mais que pela prática de desenvolvimento de projeto. A ideia de análise urbana perseguida não era, em hipótese alguma, somente a urbanística. O PDP apresentava muito mais do que um conjunto de viários, edifícios e áreas públicas, mas uma pulsação entre o misterioso, o sublime e o underground não expressos em sua materialidade, mais sedutoras ao grupo do que sua condição qualificável nos limites da ciência urbanística.
A primeira fase do GeMAP ficou então marcada pelo objetivo de interpretar a complexidade urbana por meio de mapas, a partir de uma pauta metodológica de pesquisa sobre meios e linguagens cartográficas e mapográfica de representação da cidade e o urbano. Nesse sentido, fez-se necessário conhecer as experiências a fim de conceber mapas como instrumento de estudo fenomenológico, nas diversas áreas do conhecimento, sobre as condições de vida coletiva no mundo contemporâneo. Não se trata de circunscrever o estudo em um objeto. O que interessa ao grupo é a amplitude das possibilidades, a experimentação.
Com a publicação de PDP-Mapografias, resultado dos alinhamentos teóricos e propostas de práticas dos primeiros anos de trabalho, ficou ainda mais claro ao grupo que não estávamos estudando ou analisando formas urbanas, mas desenvolvendo estudos de e sobre territórios. Nestas condições se faz necessária a territorialização do grupo, por meio de trocas de experiências com os já territorializados em seus cotidianos.
Na última década, os termos mapa, mapeamento e cartografia passaram a figurar com grande insistência no vocabulário dos especialistas nos estudos da cidade e da sociedade. Na era do infográfico e do mundo representado em layers, os conjuntos de informações complexos (a cidade, o maior de todos) podem ser manipulados por meio de montagem, desmontagem e remontagem dos dados.
Em uma (só) aparente contradição, a noção de mapeamento na atual retomada vem acompanhada da supervalorização do contato físico com a realidade a ser representada, por esta via também é retomado o conceito de deriva da Internacional Situacionista, a ideia de que só é passível de representação aguda aquilo que foi integralmente sentido e vivenciado. Daí resulta o conceito do mapa como instrumento analítico eminentemente interdisciplinar, um território fluído que permite contato com a antropologia, a arqueologia e praticamente todas as ‘logias’ das ciências humanas.
A proposta do GeMAP não é supervalorizar um método, mesmo porque, em função de como foi posto, ele sequer existe. Existe sim um grande universo de métodos aplicados graficamente em mapas. Dessa forma, o grupo existe para sondar este universo e verificar algumas possibilidades de aplicação em nossos estudos sobre a metrópole São Paulo. Nesse sentido, desde sua formação, o GeMAP fez a opção por ser nomeado como um grupo de estudos ao invés de grupo de pesquisa por dois motivos: em primeiro lugar, o Grupo tem como proposta de trabalho uma abertura à experiência, mais do que o foco em resultados formais de pesquisa; em segundo lugar, pretende-se dar ênfase a aliança entre teoria e prática e, ainda, em diálogo com comunidades e coletivos externos à FAUUSP.
O grupo subsidia pesquisas docentes distintas, trabalhos discentes de graduação e iniciação científica e projetos de extensão que tenham como objeto de estudo a vida na metrópole paulista. A dimensão, a polifonia, a complexidade deste território e, principalmente, a apreensão de seu conjunto de dados, suas situações físicas e culturais, bem como sua percepção e leitura, nos conduz ao estudo da construção de mapas sensíveis e analíticos.
Prof. Dr. Jorge Bassani [coordenador do GeMAP]
- RED-PUC Problemáticas Urbanas Contemporâneas é uma rede internacional de pesquisa que conta com núcleos na Universidad Nacional del Litoral de Santa Fe (Argentina), Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Sevilla (Espanha), Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) ISCET – Lisboa (Portugal), Universidad de Valparaíso (Chile), Politecnico de Milão (Itália), Ecole Nationale Superieure d´Architecture de Toulouse (França), USP São Carlos e FAU-USP (Brasil). O Núcleo 8 da rede está instalado no Departamento de História (AUH) da FAU, sob coordenação do Prof. Dr. Jorge Bassani. ↩︎
